terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Um Sujeito Que a Capoeira Marcou a Ferro e a Fogo

Um Sujeito Que a Capoeira Marcou a Ferro e a Fogo.

Escrevi na publicação “O Inicio de Algo que Não Tem Fim” como conheci a capoeira e como venho me dedicando a ela.  Hoje tentarei traçar outro viés. Vou falar de alguns eventos que realizei que para mim foram muito significativos!
Antes de falar diretamente dos eventos quero iniciar essa conversa, falando mesmo que superficialmente dos locais de trabalho e de como isso começou. 
Vamos lá; O mestre Samuray (in memoriam), sempre foi um grande incentivador e um grande líder no sentido de expandir os trabalhos e fazer com que os alunos logo cedo desenvolvessem o gosto e o saber para o ato de ensinar capoeira.  Na nossa
Sede (Quadra do Céu – UFC) era comum ver um aluno dando aulas para os mais graduados. Além dos valores de respeito ao próximo e da humildade o mestre com esta ação instigava os menos graduados a se tornarem lideres e professores. Existia uma regra muito básica em nossa academia: O horário era certo, não havia atraso com o Mestre Samuray daí quem estivesse na ocasião passava o treino e muitas vezes éramos nós os menos graduados. 
Muito cedo comecei meus trabalhos com capoeira que foram dois especificamente. Um juntamente com o Mestre Samuray na cidade de Guaramiranga – CE onde eu ministrava aulas em duas localidades chamadas Arábia e Linha da Serra e o Mestre em outras duas chamadas Pernambuquinho e Sede.
O outro trabalho foi no Colégio Estadual Joaquim Nogueira em Fortaleza no bairro Parquelandia do qual eu estudava e fazia parte do grêmio estudantil. Havia uma sala que servia de deposito, e nesta sala criei o CTD (Centro de Treinamento e Difusão) Joaquim Nogueira.
Alguns anos depois com minha mudança de residência implantei três ctds no cariri cearense, nas cidades de Crato e Caririaçu. Em Crato fiz base na SOLIBEL – Sociedade Lírica do Belmonte – e trabalhei em um projeto do Sesc – Crato no Pólo de Atendimento da localidade de Ponta da Serra. Em Caririaçu desenvolvi um trabalho junto à prefeitura municipal no Centro Cultural daquela cidade.
Assim como o Mestre Samuray nos incentivava a dar aulas ele nos colocava obrigações quando estávamos em período de eventos. E quem o conheceu sabe a dimensão desses eventos. Nós alunos convivíamos muito precocemente com as responsabilidades de aulas e eventos, portanto aqueles que se interessavam tinham nessas experiências um grande aprendizado de vida.
Meu apelido surge dessa curiosidade e insistência que sempre tive em estar envolvido com as aulas, com os debates e rodas de conversas entre os mestres, enfim... Desse interesse constante de está querendo sempre aprender um pouco mais, surge às oportunidades de realizar ainda na fase de aluno algumas viagens para representar o grupo em eventos fora do estado me inserindo muito cedo no circuito dos eventos capoeira.
Meu primeiro trabalho formal com a capoeira foi na cidade de Guaramiranga - CE, lá eu tinha um contrato de trabalho com a prefeitura para ministrar aulas em duas localidades quer foram faladas anteriormente.

Portanto o meu primeiro evento propriamente dito foi a realização do primeiro batismo de capoeira da Terreiro na cidade. O evento foi realizado com o Mestre Samuray e sob a sua coordenação uma vez que o mesmo também trabalhava lá em outras duas localidades. O Batismo em Guaramiranga foi um evento simples, porém muito significativo. Lá fizemos um cortejo de abertura e uma caminhada ecológica por uma trilha que nos levava ao Pico Alto. Além disso, o evento contou com apresentações de danças populares, de maculelê e grupos musicais.  Foi uma festa marcante e expressiva e a partir daquele momento a responsabilidade só aumentava. Já havia contribuído e participado ativamente de outros grandes eventos, tais como o Congresso Nacional de Capoeira realizado em Fortaleza no ano de 1996 e o lançamento do Cd da ABPC – Associação dos Professores de Capoeira - também em nossa capital.  Mas aquele foi um evento fruto direto de meu trabalho. Meus primeiros alunos, meu primeiro batismo. Foi sem dúvidas uma grande experiência da qual hoje ainda colho frutos através das amizades e dos afetos conquistados.

O segundo evento foi realizado em Fortaleza, na Escola Estadual Joaquim Nogueira. Hoje EEEP Joaquim Nogueira. Lá contava com poucos alunos, mas era uma turma bacana e bem assídua. Foi um evento muito simples com poucas pessoas, mas muito alegre e bem organizado, os meninos eram bem engajados e assim conseguimos fazer nossa história ali naquele local. Ali posso dizer que foi meu primeiro evento independente, apesar de contar com o apoio do Mestre Piqueno e do Mestre Samuray. Mas era meu, minha cara, meus desejos, minha realização pessoal...  Hoje sei bem o que significa isso e sou agradecido ao mestre Samuray e ao mestre Piqueno pela força dada!
Passa-se os anos, tivemos a ruptura com o Mestre Samuray, tivemos nossas complicações na reorganização da Terreiro no Ceará e eu resolvi mudar a vida, mudar e crescer era o lema! Para isso resolvi ir embora de Fortaleza aportando na cidade de Crato também no Ceará. Minha mãe falou-me que no dia em que viajei a turma lá do bairro Pici (Amocap) organizaram no final do dia uma despedida na porta de minha casa, porém já havia viajado e não presenciei tal ato. Até hoje carrego isso em meu imaginário como se tivesse visto toda homenagem prestada... Carrego porque a senti e sempre que me lembro desse episódio fico imaginado aquela roda de capoeira, no canto de adeus, adeus, boa viagem. Fico imaginando cada gesto de carinho e amizade. Por isso tenho viva esta lembrança!
Sem dúvida fui ao cariri em busca de algo novo. Coisa de capoeirista... Quando o jogo ta ruim ele dá volta ao mundo e recomeça o jogo buscando novas situações!
Na primeira oportunidade que tive fui conhecer os grupos locais de capoeira. Fui tentar rever também os capoeiristas que havia conhecido em 1997 quando realizamos um evento na vizinha cidade Juazeiro do Norte.

Só um ano após minha chegada que começo meu primeiro trabalho em terras cariris, isso ocorreu numa escola de música localizada no bairro Belmonte que fica no pé da Chapada do Araripe. Foi um trabalho realizado especificamente com crianças e as aulas eram nas segundas, quartas e sextas pela manhã. Foram manhãs de muito aprendizado e de muita alegria. Com o passar do tempo também fiz um horário nas noites de segunda feira.

As aulas se intensificaram e começaram a criar corpo, a “brasa” - (lembra disso Mestre Squisito?) da qual havíamos falado alguns anos antes em um de nossos simpósios - estava ali vermelhinha esperando esse sopro...  De vida! Os meninos e meninas a cada dia mais engajados e determinados e assim tive, com muita felicidade, que realizar 1º Encontro do Projeto Capoeiras no Cariri - Escambo Cultural. Neste evento contamos com a presença de várias pessoas da Terreiro dentre elas o Mestre Soldado (in memoriam), Auricelio, Piqueno, Claudinha, Risadinha, Recruta, Gata Brava, Marcia e nosso irmão Mestre Adilson de Natal-RN. 

O evento tinha o escambo cultural como premissa e a idéia era propor aos participantes a maior vivência cultural e de saberes possíveis. Pois além do batismo incluímos apresentações culturais, papoeira, caminhada ecológica e no domingo à noite uma vivência maravilhosa na casa do Mestre Raimundo Aniceto líder da Banda Cabaçal do Irmãos Aniceto, que na data estava realizando sua festa de renovação. 



Feliz e realizado esse era o Caboré naquele período! Certamente a galera voltou para suas casas felizes com tudo que haviam visto durante àquele fim de semana que pareceu voar diante tanta coisa vivenciada. O evento me fez dedicar-se mais e mais ao ensino da capoeira no cariri fazendo-me abrir dois CTD’s, um no distrito de Ponta da Serra em Crato e outro na cidade de Caririaçu.




As atividades na SOLIBEL estavam firmes, lá funcionava a sede da Terreiro no Cariri e no ano seguinte “2009” realizei o 2° Encontro do projeto Capoeiras no Cariri dessa vez com menos participantes mas com a realização de um sonho; ter a presença ilustre do Mestre Squisito!
O evento foi muito bom e satisfatório. Tinha um trabalho muito forte e de personalidade naquele local. Tudo construído na base da convivência e amizade com a comunidade. Meus alunos eram crianças, e meu filho estava prestes a nascer... O evento ocorrido no fim de semana e a vinda desse guerreiro na segunda, me deixavam em êxtase!

Não tivemos neste evento apresentações a noite por que estava objetivando uma melhor visibilidade da capoeira por parte do poder público e seus agentes. Essa minha luta resultou numa importante palestra do Mestre Squisito realizada no Centro Cultural Banco do Nordeste – Cariri onde tivemos a participação de cerca de 100 capoeiristas da região sendo dessa forma, um marco para a capoeira do Cariri.

Lá no cariri conheci várias pessoas importantes para meu fortalecimento me fazendo enveredar num caminho artístico cultural do qual percorro até hoje. As coisas não foram nada fáceis, tive muitas pedras no caminho... Mas consegui estudar, me formar em arte, crescer e mudar!

É bom visualizar e se rever nesses caminhos que ora me dá saudade, nostalgia, mas que também traz muita satisfação e alegria. Alegria em saber identificar e reconhecer que há cerca de 20 anos esse ciclo teve inicio e muito tenho a agradecer aos camaradas que convivi pelas conversas de pé de orelha, pelos conselhos, pelas broncas, pelas alegrias e tristezas, vividas e compartilhadas. Hoje nossa meta é crescimento e é isso que tenho feito a passos lentos, porém sólidos!

Iê viva meu Mestre!
Iê viva a Capoeira!

Iê volta do Mundo!