domingo, 8 de setembro de 2019

O início, "de um fim”, de algo que nunca termina!


18 de agosto de 2019 – O início, "de um fim”,  de algo que nunca termina!

Mestre Pastinha disse em uma entrevista que “A Capoeira é mandinga, é manha, é malícia, é tudo que a boca come”! 
https://www.youtube.com/watch?v=dBRgPTD4fMw 

Iniciei capoeira no fim da década de 80, mas apenas no ano de 1995 foi que eu tive a coragem para enfrentar a família e me ligar a um grupo definitivamente.  Falo assim, porque, para minha família a capoeira era algo de gente errada, desocupada. E até então ela se figurava apenas como uma brincadeira de fim de tarde nas barreiras existentes no bairro PICI em Fortaleza – CE e visitas em alguns lugares pela cidade.
Porém, foi no final do ano de 1995 que conheci o Mestre Samuray e assim, descobri a Escolinha de Capoeira no Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Ceará, no campus do PICI.
Inicio essa postagem com a frase de Mestre pastinha porque desde quando eu iniciei na capoeira que esta frase me acompanha e me intriga. Como pode a capoeira ser tudo que a boca come?  
Na minha infância tive a capoeira como uma brincadeira diária aos fins de tarde. Quando adolescente me efetivei na capoeira e assim comecei de fato meus primeiros passos. Aliás! Minhas primeiras gingas!!  Minha primeira participação em evento de capoeira ocorreu em 1996 na cidade de Tauá, essa também foi minha primeira viagem com e para capoeira. Nessa viagem, conheci alguns mestres que me influenciaram e influenciam até hoje. Mestres Squisito, Índio/RN, Cleber, Albino, Palhinha, Prainha, Bebezão, Grande, Bezerra... foi um fim de semana de muita capoeira, saímos em um ônibus fretado na sexta feira pela manhã e chegamos à tarde na cidade.
Os capoeiristas do local, liderados pelo professor Ricardo (na época), estavam a nos esperar na entrada da cidade com uma enorme faixa de boas-vindas. Quando chegamos e avistamos aquela receptividade, descemos do ônibus e fizemos uma roda de capoeira.  Sentia ali minha primeira boa vibração do mundo que havia entrado alguns meses atrás.
O batismo ocorreu na escola Joaquim Pimenta, que já se consolidou como um palco oficial dos eventos de capoeira da cidade. No domingo retornamos a Fortaleza já em clima do Congresso Nacional de Capoeira - Simpósio Universitário Cearense de Capoeira – Reunião da Associação Brasileira do Professores de Capoeira – ABPC.  Meu batizado... que ia ocorrer a partir da quinta feira seguinte. As aulas da segunda, terça e quarta feira foram motivadas pelo congresso/simpósio onde já se encontravam pela cidade vários mestres convidados.
 Sinto-me orgulhoso em ter no evento de meu batizado mestres, como Dr. Decânio, J. Barberg, Paulo dos Anjos, Itapuã, Acordeon, Ziza, Pesado, Squisito, Albino, Indio/RN, Cleber, Birilo, Mago, Lucas, Suíno, Gilvan, Zé Doró, Paulão/DF e tantos outros que a memória não me faz lembrar! Eram muitos, cerca de 60 mestres. Para época era incomum reunir tantos mestres em um só evento.
Participei de várias oficinas e aulas de Capoeira Angola, Capoeira Regional, Maculele, além das diversas palestras e debates ocorridas em âmbito universitário, nos auditórios do campus do PICI e Reitoria da Universidade Federal do Ceará - UFC.
A capoeira tornou-se, a partir de então, minha vida e através dela conheci pessoas que me encaminharam ao mercado de trabalho, a universidade, ao mestrado! Iniciei meu primeiro trabalho de capoeira, logo que me tornei monitor, na escola Estadual Joaquim Nogueira e na mesma época fui implantar, juntamente com o mestre Samuray, a pratica de capoeira na cidade de Guaramiranga – CE[1]. Foram três anos de muito aprendizado, de muita responsabilidade e trabalho! Lá fiz várias amigas e vários amigos.
 Nesse meio termo me envolvi em outras atividades culturais. Nos maracatus Az de Ouro e depois no Nação Fortaleza, no Grupo Raízes de Dança e Teatro e Na Caravana Cultural. Fui convidado por Pingo de Fortaleza, cantor e Compositor para gravar uma música de sua autoria chamada Coração de Pedra, do álbum lógica.
Nesse mesmo período fui contratado em uma escola de Fortaleza, a convite de um amigo também capoeirista, para atuar em um projeto educacional ligado a arte. Posteriormente, atuei nas áreas administrativas e de informática. Este foi o meu primeiro trabalho formal da fase adulta.   A partir de então vivi conciliando o trabalho formal com as atividades e trabalhos da capoeira.  
No ano de 2005 migro a região sul do estado. A região do Cariri Cearense. Lá começo um trabalho de capoeira na Sociedade Lírica do Belmonte – SOLIBEL e vou trabalhar na empresa de telefonia Claro e posteriormente enquanto técnico no Centro Cultural Banco do Nordeste – Cariri. Também começo um trabalho de capoeira no Centro Cultural da cidade de Caririaçu - CE e através de um contrato pelo Sesc - Crato realizo outro trabalho no distrito de Ponta da Serra, também no Crato.  No Cariri realizei, no auditório da SOLIBEL, dois grandes eventos, chamados 1º e 2º encontros do Projeto Capoeiras no Cariri – Escambo Cultural.  
No ano de 2008 volto a estudar, dessa vez entro no curso superior em Artes Visuais da URCA e venho a colar grau no ano de 2012. Em 2009 tenho a felicidade de ser pai. Em 2010 faço minha primeira viagem internacional, indo a Espanha. Em 2013 presto concurso público para professor efetivo da rede estadual de ensino no Ceará, sendo aprovado, e assumindo em 2014.
Nesse período em que assumi o concurso, junto-me ao camarada Mestre Chico para pensar um novo evento chamado Terreirada no Cariri, que nela fizemos a Virada Cultural e o Intercâmbio Cultural Arte e Tradição Terreiro Capoeira. Já estamos na terceira edição do evento, que ocorre no terreiro Arte e Tradição em Barbalha - CE e que a partir da segunda edição assumiu o nome de Virada cultural - Intercâmbio Cultural Arte e Tradição Terreiro Capoeira. 
Esse foi e tem sido um período bem produtivo. Publiquei uma crônica da Terreirada no Cariri ocorrida em 2015, viajei a vários estados brasileiros e ao México para realizar o lançamento. Junto a isso venho atuando na Salvaguarda da Capoeira do Estado do Ceará junto ao IPHAN.
E junto ao meu trabalho enquanto professor da rede estadual de ensino, coordenei um projeto de desenvolvimento de um aplicativo para salvaguarda da capoeira no âmbito escolar, onde tivemos a experiência de aplicar efetivamente a lei 10639/03.
Em 2017, incentivo o Formado Preto Velho a iniciar um trabalho de Capoeira na Cidade de Horizonte – CE, sob minha coordenação. Esse trabalho vem sendo uma ótima e importante referência na cidade. 
No ano de 2018 ingresso no programa de Mestrado Profissional em Educação da Universidade Regional do Cariri – URCA, com um projeto que visa evidenciar as possibilidades educacionais da capoeira enquanto cultura afrodescendente. Em 2019 volto a residir no Cariri cearense, realizo, junto com o Mestre Chico, a Virada cultural - Intercâmbio Cultural Arte e Tradição Terreiro Capoeira. E na ocasião do Simpósio Internacional de Capoeira realizado em Fortaleza – CE, sou agraciado com a graduação de mestre.   
Sabe... todo esse filme passou em minha mente quando foi anunciada essa graduação. Todos os amigos e todas as amigas que em algum momento fizeram parte dessa caminhada junto a mim.  Todas as mestras e todos os Mestres que me influenciaram.  Fiquei orgulhoso, por ter em minha formatura de Mestre, Mestres que estiveram em meu batizado, que me viram começar e que naquele momento estavam lá para me saudar e parabenizar pela trajetória percorrida!
Aos mestres, Squisito/DF, Itapuã/BA, Indio/RN, Sem Osso/RN, Talone/CE, Prainha/CE, Moreno de Fortaleza – CE, Albino/PI, Gean/TO, Mafu/DF, J. Bamberg/DF, Mestra Bad/DF, Junior Aranha/RN, Tambor/PI, Ganso/TO, Duende/DF, Sasquat/MA, Chico Ceará/CE, Buldog/CE, Piqueno/CE, Robério/CE, Grande/CE, Mestre Adelmo/SP, Mestre Pinot/TO, Bolão/DF e Samuray/CE, minha eterna gratidão por este momento e pela confiança dada a esse discípulo que aprende! 
Aos que se formaram junto a mim, parabéns! Senti-me honrado ao lado de vocês! Aos demais camaradas, principalmente àqueles que foram meus alunos, e os que de alguma forma contribuíram para esse eterno aprendizado minha gratidão!
Eis que, o que era coisa de gente errada virou o alimento. O meu alimento...
Porque como disse Mestre Pastinha, A capoeira é tudo que a boca come!

Mestre Orismidio Duarte – Caboré – Terreiro Capoeira.

domingo, 5 de maio de 2019

O Cariri com Mestre Buldog

Não é de hoje que o Cariri cearense se mostra forte nas questões sociais. Em várias frentes de atuação a região vem destacando ao longo desses anos. Movimentos contra a violência, racismo e outros em favor dos direitos humanos são ultimamente os que mais tem conotado essa importante região cearense. Não à toa, o cariri é hoje uma referência nacional no combate a violência e aprofundamento científico quanto ao tema.

A relação capoeiristica do Cariri com o Mestre Buldog não é antiga, mas ao longo desse curto período histórico o mestre conquistou, e vem conquistando, o respeito e o carinho de vários capoeiristas em nosso Cariri. Isso se comprova quando percebemos a adesão dos vários grupos nas ações em prol de nosso mestre.

Ontem, dia 04 de maio de 2019, ocorreu mais uma ação que consistia em uma roda realizada numa praça, que integra as três cidades do triangulo CRAJUBAR (Crato, Juazeiro e Barbalha), conhecida como Praça do Giradouro. A roda tinha como objetivo principal arrecadar dinheiro para ajudar nas despesas do mestre que nesse momento encontra-se em São Paulo passando por procedimentos cirúrgicos em busca de sua cura ao mal de Parkinson.


As 18:30 foram chegando os grupos a praça; Arte e Tradição, Embondeiro, Alforria, FABRAC, Resistencia Negra, Liberdade, Cultura e Axé e Terreiro Capoeira. As 19h, antes de começarmos a roda, informamos a todas (os) a razão daquela atividade e como seria a dinâmica do recebimento do dinheiro e do sorteio dos brindes que gentilmente foram doados pelos grupos participantes.

A roda aconteceu num clima e axé inesquecível, pois ali, naquele momento não existiam grupos diversos, mas sim um único grupo chamado Mestre Buldog! A música, o jogo de dentro, o jogo de fora, a entrada, a saída, a mandinga e a malícia foram vivenciadas numa roda que ficará para a história de nossa região e que será objeto da oralidade futura de nossos mestres.

Encerro este breve relato externando, em nome de todas as pessoas envolvidas na construção desse momento, minha sincera gratidão e deixando para a nossa reflexão um provérbio que aprendi através de uma amiga.

Uma chama não perde nada ao acender outra chama.
Provérbio Africano.