Tempo Bom... Tempo que não Volta mais!
Certamente vocês estão questionando o motivo desta publicação, desta imagem. Um prédio parcialmente destruído, abandonado, onde a natureza luta para conquistar novamente o que foi seu... Se observar a imagem por completo irá perceber que se trata de um lugar na praia, pois a parede do prédio vizinho e o próprio solo evidenciam um lugar a beira mar.
Ao parar defronte este local me vieram boas lembranças! Pois exatamente ali no ano de 1997 realizamos nossa 1ª emboscada na ocasião do Simpósio Internacional de capoeira. Neste evento tivemos a ilustre presença de Mestre Onça Tigre que foi discípulo de Mestre Bimba! "É galera essa era a barraca do Pereira" palco ilustre de nosso evento. Nela ocorreram a confraternização e a emboscada que foi realizada de forma um pouco diferente que fazemos hoje.
Hoje tentamos realizar a emboscada de forma mais aproximada possível da que o mestre Bimba realizava. Obviamente que não chegaremos a fazer uma emboscada igual por uma série de motivos dentre eles o contexto sócio cultural da época, mas na ocasião deste simpósio realizado na cidade de Paracuru no estado do Ceará fizemos nossa primeira experiência. Certamente a convivência de uma semana com o Mestre Onça Tigre - que foi aluno do Mestre Bimba - nos incentivou e nos ajudou a concretizar este feito. A emboscada foi concebida como uma competição de caça ao tesouro. Qual o tesouro? Três berimbaus; um cor de prata, um cor de bronze e um cor de ouro que foram desmontados e suas peças escondidas de modo aleatório em uma rota predeterminada pela cidade.
Foram formadas 04 equipes e a regra era muito simples: achar as peças e montar os berimbaus. A equipe que montasse o berimbau ouro ou os três berimbaus seria a equipe campeã. Realmente muito fácil não é? Confesso que também cai nesta triste ilusão.
De certa forma foi fácil encontrar as peças, mas a dificuldade estava em chegar com as mesmas no ponto de partida “A barraca do Pereira” que ficava cerca de 800m da rota dos berimbaus escondidos. Porque? Ora, as equipes estavam dispostas a tudo para conseguir êxito e se sagrarem campeãs! Esse tudo significou na prática que naquele dia a cidade de Paracuru- CE se tornaria um campo de luta onde a regra era proteger o bem encontrado a qualquer custo!
Poderíamos comparar o que houve com as maltas no Rio de janeiro. Obviamente que não se tratava de lutas de vida ou morte. Podemos também comparar e acredito que a descrição mais exata para o que ocorreu na cidade é esta: Os grupos fizeram várias tocaias, ora você era capoeira tentando escapar, ora você era capitão do mato tentando prender!
Foi uma loucura, disputas acirradas ocorreram! Pessoas foram amarradas em postes, em árvores e até de cabeça para baixo na porta principal do mercado público! A polícia foi acionada pela população imaginando ser briga de verdade e tentou prender os capoeiristas, mas alguém nos salvou explicando o ocorrido.
Lembro - me que um dos grupos ficou de tocaia próximo a barraca que era o ponto de chegada e montagem do berimbau. A maré estava cheia a água invadia a área de praia, ocorreram algumas disputas na água e um maluco que não me recordo o nome, “a se ver atocaiado” entrou mar adentro nadando e saindo em outro ponto da praia. Ele estava com o arame ouro.
A emboscada terminou no inicio da noite, o sol não mais nos dava sua luz irradiante, a melancolia do fim de tarde abria as portas para a lua nos banhar com seu brilho. Quem montou o berimbau ouro? Ninguém! Na verdade ninguém conseguiu montar um berimbau com as peças de mesma cor. A equipe campeã foi àquela que mais se aproximou da montagem completa e por ironia do destino foi a equipe que havia montado o berimbau com a maior quantidade de peças cor bronze! As peças ouro e prata ficaram divididas com as três equipes invibializando a montagem dos berimbaus. Essa experiência nos deixa uma grande lição de vida! Não é só o ouro que nos traz felicidades. Muitas vezes corremos atrás dele e esquecemos que podemos conseguir os objetivos com menos.
Terminada a emboscada uma grande vivência de capoeira a beira mar nos esperava. Tochas foram espalhadas nas proximidades da barraca e naquele pequeno espaço fizemos uma das melhores rodas de capoeira que a cidade de Paracuru no Ceará realizou e que eu participei!
Iê viva capoeira!
Iê Viva meu Mestre!
Iê volta do Mundo!
Orismidio Duarte.
Interessante como uma experiência assim ganha muito maior importância, na medida em que vira história!! A história só é mesmo compreendida quando o tempo passa e notamos suas confirmações e sua importância. Mestre Onça Tigre, nossa grande estrela desse evento, se desencarnou em 2007, embora sua energia e seu espírito pareçam circular nas nossas lembranças e memória coletiva. Mestre Samuray também desencarnou. Deixando conosco os reflexos de sua existência, eternamente cravado em ossos corações... Sim, Caboré, esse tempo não volta, mas deixou marcas definitivas em nossa História. O que fizemos ali nos ajudou a ser o que somos hoje, maiores e melhores, colhendo os frutos fãs sementes que plantamios messes singelos momentos! Yeh vorta do mundo, camará!!!!
ResponderExcluirSalve Mestre. Somos o reflexo daquilo que nos foi cultivado! Agradecido mestre, Yeh Vorta do mundo, camará!!!!!
ResponderExcluirA cada relato uma vivência em minha vida!!!!
ResponderExcluirSeus feitos, caboré e da Terreiro, são inspiradores
Ótimo texto. A nostalgia é o que mantém o coração aberto para novas experiências, na tentativa infrutífera de reviver o passado. Que bom fazer parte da família Terreiro, que bom fazer parte do universo capoeira!
ResponderExcluirLembro deste evento, eu ja treinava capoeira ha 02 anos aqui em juazeiro do norte. Foi neste encontro que conheci um pouquinho desse infinito que é capoeira. Para nos aqui, naquela época, o contato que tínhamos como os mestre de renome era atraves de fitas de vhs(não tinha internet), ninguem nem imaginava ta em um local com a presença de um aluno do mestre bimba. Hoje não pratico mais capoeira, até tentei voltar mais um tal de condromalacia apareceu pra em aperriar nos ultimos meses. Parabéns pelo texto Orismidio.
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