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Trago ao centro desta reflexão o papel do mestre(a) de capoeira em seu ofício de memorialista dos rituais afro-brasileiros. Sem dúvida, a noção de ofício[1], constitui sentido de dedicação em um saber-fazer que pressupõe a existência e resistência de símbolos, cerimônias e elementos relativos à identidade cultural de um grupo social.
Silva e Neto (2014)[2]
em artigo científico que reflete sobre a figura do mestre de capoeira, propõe a
noção de sublimidade do ofício como principal responsável pela manutenção dessa
sabedoria afro-brasileira ancestral. Trata-se de uma reflexão implicada, algo
que identifica o próprio sentido de mestre. Discípulo que aprende, mestre que
dá lição[3].
Na capoeira, tal ofício, compete uma
intrínseca práxis de relação cósmica entre pessoas e a natureza que desconhece
hierarquias nessa relação. Quando essa relação se estabelece mediada por
hierarquizações, ontologicamente esse ofício se esvazia do seu sentido de
tecnologia pedagógica antirracista.
Neste ensaio reflexivo sobre o sentido de
ser mestre de capoeira, para nós que somos “discípulo que aprende - mestre que
dá lição”, a noção deste ofício pressupõe uma sabedoria que se resguarda nos
valores civilizatórios afro-brasileiros[4].
Quando se apresenta hierarquia neste saber-fazer, a capoeira perde seu sentido
de tecnologia pedagógica antirracista para ser assumida como instrumento para
produção de uma tecnologia de poder.
O mestre de capoeira e seu ofício perdem
seu sentido ontológico, possibilitando um sentido de troca de favores entre
sujeitos mediados por uma relação mercantil. Há um reducionismo do sentido de
ser mestre, torna-se o ofício irrelevante, assim como dedicação a uma sabedoria
ancestral. A capoeira vira produto e o mestre um mercador. Alienado e alienante
na capoeira!
[2] SILVA,
R. C.; NETO, J. O. F. Mestres de capoeira: grandes conhecedores ou donos do
poder? Revista de Humanidades e Letras. Vol. 1, nº. 1, p. 82-93, ano 2014.
Disponível em: <http://www.capoeirahumanidadeseletras.com.br/ojs2.4.5/index.php/capoeira/article/viewFile/9/11>
Acesso em: 07 de ago. 2020.
[3]
CAMPOS, Helio. Capoeira Regional: a escola de mestre Bimba. [online]. Salvador:
EDUFBA, 306p.
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