terça-feira, 11 de agosto de 2020

 

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SENTIDO DE SER MESTRE NO OFÍCIO DA CAPOEIRA E A MANUTENÇÃO DOS VALORES CIVILIZATÓRIOS AFRO-BRASILEIROS

 Por Emerson de Melo Freitas - Emerson Milonga.



Trago ao centro desta reflexão o papel do mestre(a) de capoeira em seu ofício de memorialista dos rituais afro-brasileiros. Sem dúvida, a noção de ofício[1], constitui sentido de dedicação em um saber-fazer que pressupõe a existência e resistência de símbolos, cerimônias e elementos relativos à identidade cultural de um grupo social.

Silva e Neto (2014)[2] em artigo científico que reflete sobre a figura do mestre de capoeira, propõe a noção de sublimidade do ofício como principal responsável pela manutenção dessa sabedoria afro-brasileira ancestral. Trata-se de uma reflexão implicada, algo que identifica o próprio sentido de mestre. Discípulo que aprende, mestre que dá lição[3].

Na capoeira, tal ofício, compete uma intrínseca práxis de relação cósmica entre pessoas e a natureza que desconhece hierarquias nessa relação. Quando essa relação se estabelece mediada por hierarquizações, ontologicamente esse ofício se esvazia do seu sentido de tecnologia pedagógica antirracista.

Neste ensaio reflexivo sobre o sentido de ser mestre de capoeira, para nós que somos “discípulo que aprende - mestre que dá lição”, a noção deste ofício pressupõe uma sabedoria que se resguarda nos valores civilizatórios afro-brasileiros[4]. Quando se apresenta hierarquia neste saber-fazer, a capoeira perde seu sentido de tecnologia pedagógica antirracista para ser assumida como instrumento para produção de uma tecnologia de poder.

O mestre de capoeira e seu ofício perdem seu sentido ontológico, possibilitando um sentido de troca de favores entre sujeitos mediados por uma relação mercantil. Há um reducionismo do sentido de ser mestre, torna-se o ofício irrelevante, assim como dedicação a uma sabedoria ancestral. A capoeira vira produto e o mestre um mercador. Alienado e alienante na capoeira!

 

 



[2] SILVA, R. C.; NETO, J. O. F. Mestres de capoeira: grandes conhecedores ou donos do poder? Revista de Humanidades e Letras. Vol. 1, nº. 1, p. 82-93, ano 2014.

Disponível em: <http://www.capoeirahumanidadeseletras.com.br/ojs2.4.5/index.php/capoeira/article/viewFile/9/11> Acesso em: 07 de ago. 2020.

[3] CAMPOS, Helio. Capoeira Regional: a escola de mestre Bimba. [online]. Salvador: EDUFBA, 306p.


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